Adormeci.
E esta noite, que o ciclo de estações que sem dúvida tudo rege, tornou quente de mais e fria de menos para se tapar com esta insónia saudável, acordei. Ouvia-te respirar e só isso, incomodava-me, como sempre me incomodou desde a primeira vez. Como sempre me fez mexer, como me mexi jamais. À noite piorava. Ou o respirar era um só, exausto e feliz, ou a insónia era certa e boa. Hoje, foi boa demais e soltou-me até ao papel outra vez, com saudades de mil vezes. Perguntavas-me o que eu me perguntava e cansava e que ninguém sabia... porque razão já não escrevia. Mentia-te que era falta de inspiração, quando sabia que não há melhor musa que a paixão, tão pouco maior veneno. O que eu sempre soube e vou sempre acreditar é que o amor é cego e cega. E surda e imóvel e amante, arrastei-me meses e meses sem finalizar uma linha. Antes eram como ondas que bebia para matar a sede, e sem dúvida a solidão. Fazia-me companhia, agora fazes-me tu. E tudo o resto que me fez e fazia, tudo de que escrevia, agora faz-me falta. Sem esperar por um título vim mergulhar outra vez. E como na praia não há pedras no caminho para marcar o rumo, apenas a espuma que se esvai, deixo-me ir, confesso-me meio perdida. A maré está baixa, a areia respira e isso chega-me. Lembro-me de ti, no quarto a respirar e regresso, já morta de saudades sempre tuas e viva por estes minutos sempre meus.
Boa noite meu amor.
Bom dia.
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